Antônio de Alcântara Machado

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Edifício São Vito

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Manifestação durante a Revolta da Vacina

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Charge crítica à vacinação obrigatória

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Charge retratando a revolta da vacina

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Cortiço - Rio de Janeiro 1906.Visc. do Rio Branco. Glória

Cortiço - Rio de Janeiro 1906.Visc. do Rio Branco. Glória

João do Rio

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Aluísio Azevedo

terça-feira, 9 de março de 2010

Engels e a etnografia dos trabalhadores da Inglaterra

O texto clássico dos clássicos da Sociologia Urbana, "A situação da classe trabalhadora na Inglaterra", escrito nos últimos meses de 1844 e publicado pela primeira vez no início de 1845, é um marco metodológico de estudo social e antropológico. Friedrich Engels realiza o estudo a partir de viagens feitas de 1842 a 1844 pelos principais bairros operários das cidades industriais do Reino Unido, a exemplo de Londres, Manchester, Liverpool, Leeds, Bristol,Birminghan, Glasgow, entre outras. O foco do autor reside na verificação empírica da vida cotidiana dos trabalhadores das fábricas e minas de carvão inglesas. É um estudo inaugural. Embora não tenha sido o primeiro a retratar a situação dos trabalhadores industriais, foi o primeiro a utilizar uma metodologia de observação direta e "participante" - coloco entre aspas visto que há alguns critérios contemporâneos de definição desta metodologia que não constam dos critérios de trabalho empreendidos por Engels -. Além da inovação metodológica, que inaugura os estudos sistemáticos sobre as cidades industriais e os estudos etnográficos urbanos, Engels apresenta um quadro teórico, que surge por entre os dados empíricos, que denuncia a formação e o reconhecimento da classe em si e indica a tendência à formação de uma consciência de classe que dará ensejo à formação de uma classe para si, tornando a classe trabalhadora organizada e consciente de seu papel histórico e transformador. Engels chegou à Inglaterra em 1842, logo após os primeiros incidentes proto-revolucionários e a primeira greve geral da história da humanidade. O ambiente de organização e consolidação das trade-unions, os primeiros sindicatos com organicidade, e os discursos revolucionários, que passavam a constar do dia-a-dia da classe trabalhadora, influenciaram os movimentos contestadores e mudancistas na Inglaterra, assim como estimularam o processo revolucionário francês, que se inicia com os incidentes de Lyon e, mais tarde, já sob os ausícios da dupla recém formada Marx-Engels, darão força para a eclosão da Revolução de 1848, a chamada Primavera dos Povos.
O trabalho de Engels foi fundamental para a reunião definitiva dos dois mais importantes intérpretes do novo socialismo que se gestava na Europa e que se tornará hegemônico junto aos revolucionários, o socialismo científico, marcado pela observação sistemática, rigorosa e pelo olhar arguto sobre a realidade tal qual ela se apresenta, reforçando os princípios do materialismo histórico e dialético. É bom lembrar que enquanto Engels produzia "A situação...", Marx escrevia os Manuscritos Econômico-Filosóficos. Embora ainda não tivessem se reencontrado em Paris, os dois autores demonstram, em seus textos, a estreita similitude de argumentos, que levará, ainda em 1845, à união de ambos em um mesmo projeto teórico-revolucionário. A práxis revolucionária começa a ganhar forma definida a partir, principalmente, da publicação a quatro mãos d'A ideologia Alemã e d'O Manifesto Comunista. 1844 e 1845, portanto, foram anos-chave para a construção metodológica e empírica do movimento socialista e do que hoje conhecemos como obra marxiana.
Por tudo isto e, também, pela linguagem fluida e dinâmica, esclarecedora e criteriosamente descritiva, A Situação é texto prá lá de obrigatório para todos os que pretendem refletir sobre a Sociologia Urbana e sobre a modernidade capitalista na qual estamos inseridos. Mais que explicar a situação dos trabalhadores ingleses no século XIX, o texto auxilia na reflexão sobre os trabalhadores do século XX. Não só na Inglaterra, mas sobre os trabalhadores de todo o mundo.

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